29 março 2009

Doce cumplicidade

Friso de Beethoven (pormenor), Gustav Klimt (1902)


O terno enroscar de dois corpos. Assim acabam por se encontrar. Invariavelmente.
A inevitabilidade do toque…
da carícia…
do entrelaçar de pés e pernas…
o encontro dos lábios mornos, sôfregos…
os olhares acesos em jeito de convite…
a pele na pele…
o tactear curioso das mãos nos recantos quentes e húmidos…
a descoberta hesitante, tímida...
Primeiro soltaram-se os bichos inquietos, depois foi a calma racional, gentil que uniu dois espíritos sedentos de intimidade.
“Dança comigo”, pediu ele e ela dançou. Dançou até lhe doerem todos os músculos do seu corpo.
E ao som da música dos sentidos o par, cego, foi tacteando cada curva, cada pedaço e assim descobrindo cheiros, sabores, olhares cruzados até ao abandono.
A dança prosseguiu ritmada, cúmplice. Eram apenas um homem e uma mulher, entregues um ao outro, a salvo do medo e imunes à malvadez do mundo.

1 comentário:

Luís Galego disse...

um texto lindissimo, talvez porque retrate algo que se aguardava...